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quarta-feira, 26 de maio de 2010

MINEIROS...

MINEIROS...

O celular toca, atendo, e digo simplesmente, 'já estou indo.' Quando saí, passava das 17 horas, me aguardavam no restaurante em frente à firma.
Aquele local se tornou para nós, um verdadeiro ponto de encontro às sextas feiras. Nos descontraiamos, conversávamos sobre, futebol, política, cinema, economia, vida particular, medicina, enfim sobre qualquer assunto que viesse a baila, mas embora gostássemos da empresa, falar de trabalho ali, se tornava totalmente inconveniente. Após uma semana estressante de vendas, a palavra de ordem era descontrair.

Quando cheguei, minha cadeira já me aguardava. Entre os nove colegas de trabalho, um deles, jamais tinha visto, quando o garçom me perguntou, se beberia guaraná ou cerveja sem álcool, o desconhecido questionou._ "Uai. Ele não bebe" Moraes veio em meu socorro dizendo; _ "Ele só toma guaraná e de vez em quando cervejas sem álcool, porque há mais de vinte anos. É abstêmio." Valério toma a palavra._ "Ferreira, este aqui é o Sr Antonio, já ia te perguntar se você descobriria a origem dele, mas ele se entregou, falando Uai." Respondi convicto, 'com esse jeitão calmo, o olhar amigo de quem está sempre pronto a ser útil, e voz sossegada, não teria duvidas, É mineiro.' Rimos um pouco.
O novo amigo me cumprimentou com sorriso largo, dizendo. "Sim. Graças a Deus sou mineiro com muita honra, e caminhoneiro também," e antes que eu pergunta-se falou; "sou da região de Santa Luzia, conhece?" Respondi meneando a cabeça afirmativamente. O amigo continuou, "hoje estou muito feliz, depois de rodar, muitos anos por este Brasil inteiro, consegui finalmente, realizar antigo sonho; adquiri um pequeno sitio na minha cidade natal, e em breves dias, me aposento" Tomou fôlego para continuar e arrematou. _ "Vou aproveitar bem o ar puro, as pescarias. Os passeios no mato, plantar pequena horta, pequeno pomar, enfim usufruir o Maximo da natureza."

Alexandre levantou um copo com cerveja no ar e exclamou; _"Um Brinde ao Sr Antonio, pela sabia decisão." Cordeiro, um dos vendedores do grupo, comentou. _ "Você, está certo, o melhor que temos que fazer é isso, aproveitar o que for possível, antes que o desmatamento e a poluição acabem com tudo."

Sr Antonio, um pouco sério disse; _ "Realmente isso me preocupa, árvores, animais, plantações, pomares, florestas, e outras maravilhas do meu tempo de criança, quase já não existem." Adquiriu um brilho feliz no olhar e continuou falando. _ "Mas guardo comigo, ótimas lembranças da minha meninice.Fui criado no sitio do meu avô, ele possuía então, imenso apiário, abelhas de todos os tipos e tamanhos eram criadas onde se retiravam vários tipos de mel." Terminou falando com melancolia. _ "Hoje só sobraram duas colméias."

Neste momento tomei a palavra: _'Também estou assustado com esse processo de destruição da natureza, estive recentemente em Pedro Leopoldo, cidade próxima da sua (ele maneou afirmativamente a cabeça, confirmando) e voltei profundamente chateado. " Mas explico o motivo:
Tenho um casal de tios que moram lá, quando crianças eu e meus irmãos, algumas vezes, durante as férias escolares, íamos visitá-los. Para nós criados na capital (Belo Horizonte), ali se tornava um verdadeiro paraíso. Junto com os primos escalávamos imensos pés de mangas de vários tipos, pés de goiaba, pés de jabuticabas.
Certa vez, nas caminhadas que fazíamos em meio a outras propriedades, encontramos um pé de jambo totalmente carregado, enchemos os embornais e nos fartamos, Até hoje não encontrei fruta mais doce."

Continuei dizendo: _'Mas o ponto alto da nossa alegria, estava no ribeirão, que passava a poucos metros da casa, pequeno rio de águas cristalinas, é o que mais nos atraia. Essas imagens felizes da minha infância se abalaram, quando vi o estado que ficou o pequeno rio.
Construíram, fabricas de cimento no local e o ribeirão maravilhoso, se tornou um esgoto a céu aberto, os pastos e as plantações, viraram casas de alvenaria, os animais se foram, as estradas de terra se cobriram de asfalto, as carroças e carros de bois, desapareceram.' Terminei dizendo: 'Realmente a destruição do meio ambiente esta acelerada.'

O clima ficou um pouco pesado entre todos os colegas. Sr Antonio sentindo certo desconforto no ar, interveio com um grande sorriso e palavras alegres. _"Alegria pessoal. Estamos aqui para nos divertir", e sorrindo alegremente. Começou a falar:

_"Nem tudo esta perdido, vou lhes contar como foi a minha ultima viagem, naquelas bandas, meus avós, me pediram para buscar mel, peguei um balde e entrei no mato, fiquei mais de duas horas esperando as abelhas saírem, quando saíram, tranquilamente entrei na colméia e enchi a balde." E de forma feliz terminou comentando:
_"As duas colméias restantes são do tamanho de um pequeno caminhão, e as abelhas, tem um tamanho maior que uma caixa de fósforos."
Ele não continuou a falar, todos se levantaram, em protesto.
_"Isto é um absurdo, colméias maiores que caminhão? Abelhas maiores que caixa de fósforos," bradou o Seta, Vicente, e outros companheiros, a gargalhada foi geral. Ameaçaram banhá-lo com guaranás e cervejas. Não permiti, e fui em sua defesa.

'Calma pessoal, o que o nosso amigo está dizendo, é perfeitamente normal, vou contar a vocês, a ultima experiência alegre que vivenciei naquela cidade.'
Ajeitei a garganta com leve pigarro e comecei a narrar:
_Saí de Belo Horizonte bem cedo, levando comigo, meu Pai, minha tia Anita, minha irmã Ana e minha mulher Bete. Próximo ao nosso destino a estrada tranqüila e ladeada de vegetações, despertavam nossos comentários, o cheiro forte de mato, alegrava mais ainda o passeio.
Em determinado trecho, onde os ramos das arvores se encontravam pelo alto, de cada lado do caminho parecendo um túnel verde, de rara beleza, tia Anita me pediu para parar o veiculo, ela avistava uma flor diferente, de cor azul escuro, nos convidou a ver a planta de perto.

Estacionei no acostamento pequeno em cima de algumas pedras, descemos todos, meu genitor não quis, alegando que já conhecia a planta.
Caminhamos um pouco sobre a grama, e antes de encontrar a flor, ouvimos passos apressados em nossa direção, era meu Pai, que com aparência de assustado me disse:'
_"Filho: seu carro está assombrado, balança sozinho..." Respondi: _'Assombrado como Pai ?' Ele continuou:_ "Deve ser assombração, e apontou com o dedo _ Olhe.." Meus cabelos se arrepiaram, o veiculo se movia para cima, parecendo que alguém o levantava. Comecei a tremer, o que seria aquilo?

Minha irmã Ana e a tia Anita, corajosas e destemidas, foram verificar a causa, o gol continuava a balançar, meu pai as acompanhou, titubeei em ir, Bete me puxou pelo braço falando: Venha você é o motorista, tem que ir ver o que se passa.
Elas se abaixaram, e olharam debaixo das rodas, e Ana sorrindo exclamou:
"Não é assombração, você parou em cima de um sapo meu irmão," minha tia confirmou._"Um grande sapo, quando ele respira levanta o carro, tira o veiculo, que ele vai embora."
Minhas pernas tremiam, quando engatei a primeira e sai. O Sapo enorme, do tamanho de um pneu saiu pulando e embrenhou no mato.

Neste momento todos os colegas bateram na mesa, a balburdia era geral, me agarraram e começaram a dar pequenos tapas na cabeça, Sr Antonio veio em meu socorro afirmando:
_"Ele tem razão, isso acontece muito no interior de Minas, me dêem um voto de confiança, que provo isso ser verdade." _Provar como? Perguntaram todos em gargalhadas.
Ele calmamente, e com a cara mais tranqüila do mundo. Explicou: "Os sapos cresceram tanto assim, porque se alimentam das abelhas do sitio do meu avô."...

Desta vez, ficamos sem perdão. Assobios. Berros,_ "Esta é demais , abelhas com tamanho de caixas de fósforos, sapos grandes que balançam carros iguais a pneus, não dá para aceitar." falaram todos.

Tomamos um verdadeiro banho de cervejas e guaranás, derrubaram pacotes de salgadinhos em nossas cabeças.
O funcionário novato do restaurante, vendo a bagunça, gritou perguntando: _"O que vocês estão comemorando?"
Fábio respondeu. _"Comemoramos e parabenizamos a maior dupla que se formou neste boteco, nos últimos tempos." O garçom admirado exclamou: "Dupla de que?"
Fábio olhou novamente a balburdia e alegria de todos e comentou: _"De contadores de historias."
Meia hora depois após lavar a cabeça no toalete nos despedimos. A descontração foi geral.

Os momentos em que passamos juntos, me deixou completamente relaxado, estava preparado agora, para enfrentar o maior engarrafamento naquele horário, provavelmente o maior do país. Os doze km da Marginal Tietê.

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